Nosso inferno...


Ela finalmente aprendeu a improvisar.

Outro dia. Outros olhos. Outro lugar. O mesmo desejo de me perder no corpo dela.

Dentro daquele cubículo miserável, tudo parecia acontecer ao mesmo tempo e muito rápido, fazendo com que só saíssem vitoriosos, aqueles poucos com agilidade mental necessária para sentir prazer. Ela tragava meu cigarro profundamente, enquanto aqueles olhos negros de gato esquadrinhavam meus sentimentos mais profanos. A vontade de tomar de volta a fumaça de sua boca era tangível. O medalhão de corrente longa que lhe descia além dos seios rijos, me parecia uma coleira inutilmente colocada em um grande felino, afim de que este não dilacere uma paixão frenética como se fosse um simples frango. Sua calça de cintura baixa torturava meu cérebro na cadência febril de seus passos em minha direção. Sem tocá-la eu podia sentir a textura de sua pele, suave como o primeiro gole de wisky, que entorpece e traz alento a meus nervos contraídos pela vontade de senti-la sobre mim. Eu caminhava a passos largos para o descontrole, com a intenção de perde-lo antes que este me fizesse refém. Era uma questão de tempo. Ou de falta dele. Nem me dei conta do porque agi assim, mas o fiz com a vontade e a cautela de um atirador com seu rifle, em que o momento do disparo deve ser sentido como um susto ante a visão do corpo tombando a milhas de distância. E ela enfim cedeu. Da mesma forma que ela tentou fazer, minhas mãos correram por seus cabelos com a violência dos amantes, e ela cedeu. Seu corpo era meu e sua cabeça obedecia firmemente meus desejos, enquanto seus olhos varavam os meus num pedido silencioso. Seus lábios se abriram levemente com um brilho metálico, como se uma esfera fria morasse naquela boca. O tempo tornou-se lento. Minha outra mão correu pela borda de sua calça e pude sentir claramente sua pele se encrespando arrepiada, de forma que se eu fosse cego, teria um livro inteiro em braile para ler. Toda a história daquele corpo quente, desperdiçada nas mãos de um bibliotecário cego e velho. Isso não iria acontecer mais. Puxei seu cabelo e toquei seus lábios nos meus. Apenas toquei. Senti em sua boca a mistura de álcool e cigarros que tanto me excita. Cheiro de sexo. A ponta da minha língua deslizando por seus lábios molhados provocava a sensação de estar de frente ao extraordinário. Ela cedeu. Sua língua acompanhava meus movimentos e chocava-se orgasmicamente com a minha. Se aquilo continuasse, só terminaria com corpos suados a beira da exaustão. Não gosto de esperar, mas sei que agora ela cedeu. E dentro daquela biblioteca mofada, nas mãos de um bibliotecário cego e velho, a história escrita em braile daquele corpo quente não mais ficará.


(by Terra de Pan - 07/05/2009)

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O asfalto esta liso demais, o mundo redondo demais, o corpo com suas curvas, perfeito demais, pessoas que respiram por ai vivas demais. Nada vale o que se vê, mas o que se sente... O mundo é impensado e organizado demais!
Fui a minha sombra ao sol do meio dia, sou esse corpo que caminha, e serei um mistério algum dia.
Eu sou masturbação mental, aquele zumido no teu ouvido, as borboletas do seu estômago e a sujeira mais íntima, pois ninguém tem um troço como eu.

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